Goiás celebra Janeiro Branco pela conscientização sobre sanidade mental
O mês de janeiro geralmente é marcado pela elaboração de planos e reflexões sobre atitudes e rumos que queremos tomar em nossas vidas, por isso, foi escolhido para a realização do Janeiro Branco. A campanha voltada para a conscientização sobre a sanidade mental passou a integrar o calendário oficial de Goiás após aprovação da Lei nº 20364/18 de autoria do deputado estadual Virmondes Cruvinel (PPS).
O Janeiro Branco convida as pessoas a pensarem sobre suas vidas, a qualidade dos seus relacionamentos e o quanto elas conhecem sobre si mesmas, suas emoções, seus pensamentos e sobre os seus comportamentos. Com ações, orientações e reflexões a respeito das condições e características emocionais dos seres humanos, a ação pretende quebrar o tabu em relação ao tema.
Diferentemente do Setembro Amarelo, que atua diretamente na prevenção ao suicídio, o Janeiro Branco está focado em mostrar às pessoas a importância da subjetividade humana e necessidade de atenção às questões mentais, sentimentais, emocionais, relacionais e comportamentais, muitas vezes negligenciadas em nosso cotidiano.
Em busca de sentido
A psicóloga e coordenadora do Janeiro Branco em Goiás, Ludmila Lima Venturoli, explicou à reportagem que a intenção da campanha é promover a saúde mental e emocional, levando a psicoeducação ao maior número de pessoas.
“Precisamos construir um estado de saúde mental, entendendo que é preciso olhar com atenção para todas as nossas dimensões (física, mental, emocional e espiritual), cultivando assim um estado de saúde integral”.
Segundo Ludmila, as estatísticas de ansiedade, depressão e suicídio são altíssimas no Brasil e, por isso, é preciso conscientizar as pessoas que tiverem um sofrimento nessa área que elas podem e devem buscar ajuda profissional, podem falar sobre o problema com seus familiares e pessoas próximas.
Para derrubar o tabu, a profissional destacou que a campanha acredita no poder da informação. “O conhecimento liberta. As pessoas precisam começar a falar sobre as emoções e nós profissionais precisamos levar o conhecimento da academia, do consultório, para a sociedade. Esse assunto precisa chegar às famílias, escolas e empresas”, pontuou.
Para a psicóloga a condição humana é muito maior do que só conquistar bens materiais ou buscar um padrão de vida que a sociedade determina. Ela incentiva todos a questionarem: o que é importante para mim? O que está acontecendo aqui dentro de mim?
“Muitas pessoas nem sabem que existe um psicólogo, psiquiatra e que tudo bem buscar ajuda caso esteja enfrentando um sofrimento mental, um pensamento repetitivo que esteja lhe deixando confuso ou te trazendo algum prejuízo. Ou até mesmo uma emoção difícil de lidar, uma angústia ou tristeza que não passa, uma ansiedade que está trazendo prejuízo à vida pessoal e profissional.
Janeiro Branco em Goiás
A campanha prevê a realização de palestras, rodas de conversa, oficinas, caminhadas, panfletagem e várias outras formas de intervenções urbanas que promovam a valorização da Saúde Mental, além de ações no SUS e nas redes públicas e privadas de saúde.
Em Goiânia, será realizado o evento janeiro Branco #falemaissobreisso, no dia 26 de janeiro, das 8h30 às 12h30, no auditório da Escola SENAI – Vila Canaã. A ação gratuita terá mini-palestras e atividades que envolvem ciência, arte e cultura na busca da saúde integral. Inscreva-se aqui
O Hospital Estadual de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) também aderiu ao Janeiro Branco e preparou uma programação especial de 14 a 31 de janeiro, das 8h às 17h, com diversas atividades gratuitas envolvendo os temas ansiedade, depressão, álcool e drogas.
Em Goiás também está prevista a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), com o intuito de debater os avanços conquistados dentro das diretrizes estabelecidas e os problemas a serem dirimidos no ano seguinte.
Pela sanidade mental
Ao Jornal Opção, o médico psiquiatra Rodrigo Santana afirmou que cerca de 40% da população tem ou terá um transtorno psiquiátrico, passível de tratamento, durante a vida. “Até 2020 a depressão será, ou já é, o diagnóstico mais prevalente e incidente entre todos na medicina”.
“Muitos sofrerão anos por não procurar o profissional especializado no início do problema, o que irá dificultar a conduta do médico no tratamento e controle do transtorno”, explicou.
O profissional lembra que diversas figuras públicas, como por exemplo o humorista Chico Anísio (que tinha depressão recorrente), a modelo Luciana Vedramini (que trata TOC), Luciano do Vale (depressão) e Casagrande (abuso de drogas com internação especializada) têm procurado a mídia e exposto os seus problemas com os transtornos da mente, inclusive com participações em Congressos Oficiais da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
“Vejo essas manifestações de artistas e famosos como extremamente positivas para a quebra de paradigmas e até do preconceito no sentido que a doença mental pode afetar qualquer um, em qualquer idade ou situação social”, disse o médico.
Rodrigo explica que a depressão pode ser diagnosticada com apenas duas semanas de tristeza constante, desmotivação, apatia, irritabilidade, choro fácil, isolamento social, queda da atenção, falta de concentração e consequentemente diminuição do rendimento escolar ou no trabalho, muitas vezes sem motivo aparente.
O diagnóstico deve ser dado pelo especialista de Saúde Mental, no caso o psiquiatra, e a combinação do uso de medicações adequadas e psicoterapia, segundo o profissional, oferecem resultados surpreendentes.
“A associação com práticas regulares e adequadas de atividades físicas melhora em quase o dobro os efeitos benéficos das medicações. É importante nunca se automedicar. Nem os profissionais de saúde devem fazer isso. Um diagnóstico bem feito e um tratamento adequado podem salvar vidas e resgatar a autoestima, desejo de viver e qualidade de vida de muitos. Cuidemos então do nosso corpo e mente que são um conjunto e temos um só”, finalizou Rodrigo.
Enfrentando o problema
Conversamos com uma profissional de Relações Públicas de 24 anos que enfrentou o problema de frente. Por ter sofrido preconceito de conhecidos e no local de trabalho, a jovem preferiu não se identificar. “Fui diagnosticada com depressão, transtorno da ansiedade generalizada (TAG) e síndrome do pânico”, explicou.
Para a jovem, o principal ponto para se vencer um transtorno mental é o autoconhecimento. “Quando você percebe o primeiro ato é a negação de tratamento, isso ocorre pela falta de conhecimento e também pela ideia de que problemas psicológicos são frescura”, disse.
O problema só foi aceito pela jovem quando atividades de rotina passaram a se tornar incômodas e difíceis. Ela relatou que uma simples ida à padaria ou pegar um ônibus eram encarados com dificuldade. Foi aí que os amigos começam a cobrar que ela procurasse ajuda.
“Eu tive a ajuda de muitos amigos que me fizeram perceber que o problema estava fugindo ao meu controle. Existem muitos estigmas, mas aceitei ajuda e depois vi que foi mais simples do que eu imaginava. No entanto, quando despertei para o problema a situação já estava muito ruim e me vi no fundo do poço”, relatou.
A jovem explicou que precisou se afastar do trabalho, o que acarretou problemas em sua carreira profissional. “Fiquei 45 dias afastada e peguei férias, no entanto fui ameaçada de demissão diversas vezes, o que piorou meu quadro. Por não ser uma doença física a chefia e até colegas julgaram minha ausência como falta de compromisso e preguiça de trabalhar”, afirmou.
A melhora, no entanto, veio quando a jovem decidiu priorizar sua saúde mental e aceitou ficar internada em uma clínica. “Fiz tratamento com psiquiatra, psicanalista e os remédios me ajudaram muito. Tive a sorte de encontrar bons profissionais que me ajudaram a retomar as rédeas da minha vida”.
“Hoje eu tomo cuidado e evito situações gatilho como lugares muito cheios, além de tentar lidar com situações estressantes de outra forma. Não hesito em falar sobre meus problemas e pedir ajuda. Também aprendi técnicas de respiração e a conhecer meus limites”, relatou.
Prevenção ao Suicídio
É importante lembrar que mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais, segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Desse total, 36% das vítimas apresentavam transtornos de humor, como depressão, 14% foram diagnosticados com esquizofrenia e 10% possuíam transtornos de personalidade. Ainda de acordo com a OMS, nove em cada 10 casos poderiam ser prevenidos, o que mostra a importância da conscientização da população sobre saúde mental.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) trabalha na prevenção ao suicídio, por meio de voluntários que dão apoio emocional a todas as pessoas que querem e precisam conversar, através do número 188. As ligações são gratuitas para todo o Brasil.