Depressão causa perda anual de 78 bilhões de dólares no Brasil

Depressão causa perda anual de 78 bilhões de dólares no Brasil

Pesquisadora da London School of Economics mostra os efeitos do estigma sobre doenças mentais no trabalho e na economia

Por Luísa GranatoPublicado em: 09/12/2020 às 11h02access_timeTempo de leitura: 5 min

Redução de salário

 (sorbetto/Getty Images)https://65bde9af38a55643322ffe514e84de9f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Não ajudar os funcionários com seus problemas de saúde mental tem um custo – e ele é caro. Segundo a pesquisadora Sara Evans-Lacko, da London School of Economics, o Brasil perde 78 bilhões de dólares com a queda de produtividade causada pela depressão.

O dado isolado parece justificar o estigma que pessoas com doenças psiquiátricas já sofrem no ambiente de trabalho. E aí entra um fato revelador da pesquisa: reverter esse cenário depende da cultura da empresa e das lideranças, não do indivíduo.

A pesquisadora revelou o fator que pode ser decisivo para reverter esse cenário de improdutividade durante sua apresentação no Summit de Saúde Mental nas organizações nesta quarta-feira, 9.

“Nós descobrimos que se um funcionário com depressão trabalha em um lugar sem nenhum apoio do gestor ou o gestor evita falar da depressão, então ele tem mais chances de tirar licença médica no trabalho. Por outro lado, se o gestor oferecesse ajuda, a pessoa tem menos chance de ficar longe do trabalho”, fala ela.https://65bde9af38a55643322ffe514e84de9f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.htmlVeja também

Os dados lidam com uma medida que todos os empregadores deveriam estar alertas: o absenteísmo.

“Quando começamos a falar de questões de saúde mental no trabalho, olhamos para os dados de absenteísmo, que é a licença médica. Mas a gente tem um dado significativo, três vezes mais impactante para as organizações do presenteísmo, onde eu estou no ambiente de trabalho, mas não estou conseguindo trabalhar no meu potencial”, explica Cintia Gonçalves, sócia e fundadora da GETAHEAD, que coordenava o painel.

presenteísmo é o outro lado da moeda, quando o funcionário comparece ao trabalho, mas ainda há uma grande perda de produtividade pela falta de apoio.

Na pesquisa de Sara Evans-Lacko, o apoio dos gestores representou um impacto na produtividade das pessoas com depressão. A falta de suporte mostrou que os funcionários são menos produtivos, mesmo comparecendo ao trabalho.

“Isso mostra um argumento econômico real para a diminuição do estigma no ambiente de trabalho. Não apenas para o bem estar dos funcionários, claro, e para promover uma cultura de trabalho positiva, mas também para o argumento da produtividade econômica para os empregadores”, comenta a pesquisadora.

Ela fala que existem casos que já mostram que é possível promover ações de conscientização no trabalho sobre os problemas de saúde mental e como dar suporte para pessoas com esses problemas para reduzir o estigma.Veja também

Para o psiquiatra Rodrigo Bressan, fundador do instituto Ame Sua Mente, é importante ressaltar que ao falar de saúde mental, o assunto toca 100% das pessoas. Embora existam doenças crônicas e situações mais graves, o estresse e a administração de emoções deveriam ser preocupação de todos.

Enquanto até um quarto da população mundial terá algum transtorno mental ao longo da vida, apenas 1 em cada 20 dessas pessoas terá alguma incapacitação decorrente da doença. Segundo o médico, o estigma atrasa a busca por tratamento.

“Tudo começar com o autoconhecimento, as noções de como a gente funciona. Estamos acostumados a olhar nossos talentos e deficiências para as tarefas, como ir bem em matemática e em outra coisa não. E a gente não percebe tanta clareza para em que tipo de relacionamento você funciona melhor ou pior”, explica o médico.

Os debates do Summit de Saúde Mental continuam hoje e na quinta-feira, 10. Confira a programação completa:

DIA 8/12

Das 8h30 às 9h30
Saúde e Bem-estar: Vantagem Competitiva no Mundo Contemporâneo
Pedro Thompson (CEO EXAME) e Geoff McDonald (Cofundador da ONG Minds at Work e ex-Unilever)

Das 18h às 19h
Saúde Mental: Por Que A Hora É Agora?
Sidney Klajner (presidente do Hospital Albert Einstein)

Das 19h às 20h
Saúde Mental em Sinergia Com Outras Pautas, Culturas, Gestão da Mudança e Diversidade
Betina Lackner (diretora de RH da Johnson & Johnson), Nélio Bilate (CEO da NBheart) e Francine Graci (diretora de career experience do Twitter Latam)

DIA 9/12

Das 8h30 às 9h30
O Ciclo Virtuoso: Redução de Preconceito & Estigma e Promoção da Saúde Mental
Sarah Evans Lacko (pesquisadora da London School of Economics) e Rodrigo Bressan (psiquiatra, professor e fundador do Instituto Ame Sua Mente)

Das 18h às 19h
Estresse e Burnout: Estratégias de Prevenção
Pedro Pan (psiquiatra e pós-doutor pela Unifesp), Marco Kheirallah (sócio-diretor da SIP Capital) e Glaucimar Peticov (diretora executiva do Bradesco)

Das 19h às 20h
O Papel do Líder Como Promotor da Saúde Mental
Paulo Kakinoff (presidente da Gol), Ana Paula Bogus (global head of business da Rappi), Elieser Silva (diretor superintendente de medicina diagnóstica e ambulatorial do Hospital Albert Einstein) e Caito Maia (CEO da Chilli Beans)

DIA 10/12

Das 9h às 10h
Triagem Emocional: Uma Ferramenta Para os Primeiros Sinais de Estresse
Claire Finch (client director do Kets de Vries Institute), Caroline Rook (associada do Kets de Vries Institute e professora da Henley Business School, UK) e Thomas Hellwig (associada do Kets de Vries Institute e professor adjunto do Insead França)

Das 17h às 18h
Como Construir um Business Case Para Investir em Saúde Mental na Sua Organização
Raquel Conceição (diretora de saúde corporativa do Hospital Albert Einstein) e Maria Susana de Souza (vice-presidente de RH da RaiaDrogasil)

Das 18h às 19h
Impactos Positivos e Desafios de Endereçar Saúde Mental nas Organizações
Luciana Paganato (vice-presidente de RH da Unilever), Mariana Holanda (diretora de saúde mental da Ambev) e Moisés Marques (diretor de RH da Novo Nordisk)

Das 19h às 20h
Geração Z: Saúde Mental e Futuro do Trabalho

Para participar e enviar perguntas aos painelistas, inscreva-se gratuitamente aqui.

https://exame.com/carreira/depressao-causa-perda-anual-de-78-bilhoes-de-dolares-no-brasil/

Senadores criticam possível revogação de portarias sobre saúde mental

Fonte: Agência Senado

  • Prefeito Rui Palmeira entrega Caps Sadi Feitosa na Chã de Bebedouro em Maceió.

Centro de Atenção Psicossocial em Maceió: rede de atendimento seria afetada por eventual revogação
Marco Antônio/Secom Maceió

  • Prefeito Rui Palmeira entrega Caps Sadi Feitosa na Chã de Bebedouro em Maceió.

Senadores criticaram a intenção do governo federal de revogar cerca de cem portarias sobre saúde mental editadas entre 1991 e 2014. A revogação levaria ao encerramento de vários programas do Sistema Único de Saúde (SUS), como o de reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar, as equipes de Consultório na Rua, o Serviço Residencial Terapêutico e a Comissão de Acompanhamento do Programa De Volta para Casa.

Também corre risco a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. A informação foi divulgada pela revista Época.

O senador Humberto Costa (PT-PE) ressaltou que as portarias foram criadas por governos distintos, mas têm o objetivo comum de garantir a saúde e o bem-estar de pessoas com sofrimento ou transtorno mental.

“Não podemos permitir tamanho retrocesso. Em plena pandemia de coronavírus, o governo Bolsonaro segue o seu desmonte do SUS. O alvo da vez é o programa de saúde mental e os serviços de atenção psicossocial”, disse Humberto.

Para o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), a decisão é um atentado contra o princípio constitucional do direito à saúde: 

“A tragédia é ainda pior em meio à pandemia. Não vamos permitir esse retrocesso!”

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), que é médico, afirmou que defesa do SUS é preservar a vida.

“Errar de caso pensado é maldade. Os ataques ao SUS mostram a perversidade do atual governo”, condenou.

Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Minoria, disse que o governo federal “persegue o retrocesso”:

“Estamos passando por uma das piores crises que nosso país já viveu. Tem desemprego, caos na saúde, desigualdade social. Desmontar a política de saúde mental é entregar nosso povo ao adoecimento. Não vamos permitir!”

Os senadores Paulo Rocha (PT-PA) e Weverton (PDT-MA) também condenaram a possível revogação das portarias.

“Estamos há quase um ano em pandemia. Neste tempo o governo Bolsonaro não só se omitiu de enfrentar o problema, como seguiu com o desmonte do sistema público de saúde. Agora, para piorar, investe contra o programa de saúde mental do SUS. Absurdo”, criticou Weverton. 

Para Paulo Rocha, seria mais uma “ação criminosa e irresponsável” do governo:

“Neste momento de pandemia e com o agravamento das patologias, o país precisa é de uma ampliação dos programas de saúde mental.”

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também se manifestou sobre o caso e prometeu colocar em votação um projeto de decreto legislativo (PDL) para reverter a possível revogação das portarias. 

“Se esse assunto de fato avançar, vamos votar o PDL. Espero que tenhamos os votos necessários para manter aquilo que foi construído ao longo dos últimos anos”, anunciou Maia em Plenário.

Com informações da Agência Câmara

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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Fonte: Agência Senado

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Saúde mental nas empresas envolve aceitar as pessoas como elas são

Saúde mental

Saúde mental: apesar de defender a política da Johnson & Johnson Brasil, cujo mote é You Belong (Você pertence, em português (bugphai/Thinkstock)https://51f965e7e706aa4445d061af9126adcd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Acolhimento, pertencimento e diversidade são alguns dos pontos que unem gestão e cultura empresarial à saúde mental de funcionários e líderes. 

A vida está mais complexa, a rotina mais intensa, mas a EXAME Academy pode ajudar a manter a mente em foco

Essa visão de que a cultura da empresa é a raiz dos problemas e soluções nas questões emocionais dos trabalhadores nem sempre é lembrada quando políticas de bem estar de funcionários são desenvolvidas. 

Para Betina Lackner, diretora de RH da Johnson & Johnson, a receita para o sucesso de times e empresas passa pela acolhida e diversidade.https://51f965e7e706aa4445d061af9126adcd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

“Quando você não é acolhido, você não tem a sensação de pertencimento. Você não está entregando o máximo e produzindo o que pode produzir. Se a pessoa não se sente conectada, ela apenas sobrevive”, afirma a executiva, que participou nesta terça-feira do Summit Saúde Mental, organizado pela Exame.

Apesar de defender a política da Johnson & Johnson Brasil, cujo mote é You Belong (Você pertence, em português), a executiva reconhece que o caminho para isso é longo. Veja também

A visão de que a diversidade é um dos cernes do bom ambiente de trabalho é compartilhada pela presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino:

“A inclusão é um tópico importante, além de raça e gênero, mas também religião e cultura. Quando você tem esse olhar do diferente, você trabalha melhor a saúde mental”.

A questão da diversidade e da representatividade também envolve o combate às micro agressões. Essa é uma das responsabilidades das empresas. 

“Micro Agressões acontecem sem as pessoas se darem conta das ofensas.O combate a elas vai dando uma força para que os grupos sub representados naturalmente se constituam”, explica Francine Graci, diretora de Career Experience do Twitter na América Latina.

A necessidade de reformar a cultura, independentemente de ações de saúde mental, é reforçada pelo ex-executivo da Nissan e Renault Nélio Bilate, que hoje é CEO da NB Heart, que oferece soluções de saúde mental a empresas.

“Um ambiente com saúde mental é um só um efeito, e uma das causas é uma cultura organizacional leve, sadia, diversa, humanitaria”. 

Durante a pandemia, a saúde mental ganhou relevância nas empresas e na vida das pessoas. 37% das empresas registraram aumento de doenças psiquiátricas durante a pandemia, como ansiedade e depressão. Veja também

Entre os motivos, estão o medo com a saúde em si, insegurança econômica e a falta de limites entre vida pessoal e trabalho devido ao home office amplamente adotado.

Apesar de a crise do coronavírus ter criado as situações de estresse, incerteza e perdas na vida pessoal e profissional, ela também serviu para o tema deixar de ser tabu.

“Agora sim podemos falar em saúde mental, nas fragilidades que as pessoas têm. A saúde mental até pouco tempo era tabu. Então a pessoa podia se justificar dizendo que tinha uma dor de cabeça, mas ela nunca falaria que estava ansiosa ou deprimida. E isso mostra que a gente tem uma responsabilidade dos líderes de entenderem isso”, defende Maria Scheneider, do Grupo Pão de Açúcar.

Essa responsabilidade que a executiva defende também passa pelo acolhimento. Além de se sentirem pertencentes, os funcionários precisam se sentir confortáveis para falar sobre saúde mental. 

É nesse ponto que entra a necessidade de os líderes serem exemplo, e mostrarem que também são vulneráveis. 

“Quando você como líder se coloca como vulnerável, você abre espaço para identificação e isso traz legitimidade”, defende Francine Graci.

Tania Cosentino, da Microsoft, também destaca que o líder não pode repetir um papel que existia de ser uma pessoa que suga a energia do funcionário. Ele deve dar a energia: 

“Líder tem que dar clareza, gerar energia. O líder tem que cuidar, ser modelo”.

Com a pandemia, houve uma lente de aumento sobre os transtornos emocionais, na visão de Sidney Klajner, do Hospital Albert Einstein, que também participou do Summit Saúde Mental. 

Entre as características da síndrome de burnout, o médico destaca a mudança de comportamento e discursos repetitivos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, exaustão, falta de conexão com os colegas de trabalho e redução da eficiência são os principais indicativos de que alguém está passando por uma síndrome de burnout, que é uma doença ocupacional reconhecida pelo órgão internacional.

Assista ao evento completo:

Rodrigo Maia promete pautar projeto para manter saúde mental no SUS

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Revogação de portarias pelo governo poderá interromper programas de saúde mental Compartilhe Versão para impressão 0 Comentários

07/12/2020 – 22:23   Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Votação de propostas legislativas. Presidente da Câmara dos Deputados, dep. Rodrigo Maia

Rodrigo Maia: “Espero que tenhamos os votos necessários para manter aquilo que foi construído ao longo dos últimos anos”

Atendendo a pedidos de deputados da oposição, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prometeu colocar em votação um projeto de decreto legislativo para reverter a possível revogação de portarias que levaria ao encerramento de programas de saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS). “Se esse assunto de fato avançar, vamos votar o PDL. Espero que tenhamos os votos necessários para manter aquilo que foi construído ao longo dos últimos anos”, anunciou o presidente da Câmara, em Plenário.

A líder do Psol, deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), informou que os partidos de oposição enviaram requerimento de informações sobre minuta do Ministério da Saúde que estuda a revogação de mais de 100 portarias sobre saúde mental, publicadas entre 1991 e 2014. “Também queremos a convocação do ministro da Saúde para que ele se explique”, afirmou.

O deputado Chico D’Angelo (PDT-RJ) teme que o possível encerramento de programas de saúde mental comprometa o atendimento de dependentes químicos e usuários de crack. “É uma irresponsabilidade”, criticou.

Para a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), a ameaça a programas de saúde mental é ainda mais grave no momento em que o mundo passa por uma pandemia. Ela alertou para a pressão exercida sobre as pessoas com o isolamento social.

Reportagem – Francisco Brandão
Edição – Pierre Triboli

Fonte: Agência Câmara de Notícias

https://www.camara.leg.br/noticias/713604-rodrigo-maia-promete-pautar-projeto-para-manter-saude-mental-no-sus/

Mesmo com pandemia, 47% das empresas não investiram em saúde mental

Entre as que tomaram alguma iniciativa, apenas 11% das empresas oferecem terapia pelo plano de saúde e 18% tem alguma equipe de saúde psicológica

Por Victor SenaPublicado em: 05/12/2020 às 08h00Alterado em: 04/12/2020 às 21h37access_timeTempo de leitura: 2 min

https://exame.com/carreira/mesmo-com-pandemia-47-das-empresas-nao-investiram-em-saude-mental/

cérebro

Saúde Mental:Problemas de insônia e ansiedade foram os mais relatados pelos profissionais ouvidos, com 33% de ocorrência dos dois casos (Westend61/Getty Images)

Um em cada quatro brasileiros sente que a empresa em que trabalha não está procupada com a saúde mental do funcionário. Uma pesquisa realizada pela empresa Vittude mostra que isso não é só uma impressão dos funcionários. Desde o início da pandemia, 47% das empresas não tomaram nenhuma iniciativa para melhorar a saúde mental dos funcionários.PUBLICIDADE

Cansaço? Estafa? Burnout? Faça da pandemia uma oportunidade de reset mental

Entre as que tomaram alguma iniciativa, apenas 11% das empresas oferecem terapia pelo plano de saúde e 18% tem alguma equipe de saúde psicológica no local.

Problemas de insônia e ansiedade foram os mais relatados pelos profissionais ouvidos, com 33% de ocorrência dos dois casos.https://49bb1146f27525e4714a175ebc155e44.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Desde o início da pandemia, o debate sobre os impactos do isolamento social sobre a saúde mental tem ganhado força. Outra pesquisa divulgada em setembro mostra que 37% das empresas registraram aumento de doenças psiquiátricas.

Quase metade dos entrevistados afirma que deixou de fazer aquilo que lhes dava prazer, como atividades físicas ou de lazer. Para 33%, houve sobrecarregamento com o acúmulo de funções e 24% tiveram dificuldade de manter a rotina da casa funcionando.Veja também

Entre as fontes de sentimentos ruins apontadas pelos brasileiros estavam as notícias e as redes sociais. 42% dos entrevistados acredita que as redes sociais contribuem diretamente para quadros de ansiedade.

Antes da pandemia, dados da Organização Mundial da Saúde já apontavam o Brasil como o que tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno.

Apesar do aumento dos sintomas relacionados à ansiedade e depressão, 62% das pessoas afirma que passaram a entender mais a importância de cuidar da saúde mental durante este período.

Psicólogo alerta sobre saúde mental dos professores

Foto: Divulgação/CMCG

HoraMS

O psicólogo Jefferson Luis Azevedo Morel esteve na Câmara de Vereadores de Campo Grande nesta semana para falar sobre o Programa Professor Líder, que busca aumentar a vida útil profissional dos professores através da promoção e prevenção da saúde mental e emocional, e também proporcionar aos alunos uma aproximação conjunta à psicologia da educação.

“O líder da sociedade é o professor. Temos um líder adoecido, que não é capaz de gerenciar suas emoções. Não sendo capaz, vai afetar todos os alunos e a escola no geral”, analisou.

O programa é voltado para profissionais das redes pública e privada de educação. Ele visa combater diretamente o afastamento dos professores, que, segundo o psicólogo, têm ‘vida útil’ de 10 a 15 anos nas salas de aula.

“Depois, sua normatividade é quebrada com patologias, como estresse, ansiedade, desgaste físico e psicológico, além de transtorno de pânico. Seriam professores entrando em um estágio com perda de contato com a realidade”, alertou.

O psicólogo atua em três eixos: professor, direção e coordenação da escola, além de pais e alunos. 

“O objetivo é capacitar esses professores através de conteúdo, ferramentas, de acordo com o contexto real deles. Fazer com que eles trabalhem de maneira saudável, onde aprendam as linhas que não podem ultrapassar. Em todas as questões, eles são capacitados dentro do programa”, finalizou.

O psicólogo falou a convite do vereador Odilon de Oliveira (PSD).

Pandemia aumenta número de pacientes com transtornos mentais

REDAÇÃO ND, CHAPECÓ07/12/2020 ÀS 17H30 – Atualizado Há 2 diasEnviar no WhatsApp

https://ndmais.com.br/saude/pandemia-aumenta-numero-de-pacientes-com-transtornos-mentais/

O turbilhão de emoções é uma característica de fim de ano. Porém, sintomas de ansiedade, depressão, estresse e transtornos pós-traumáticos foram ampliados durante o ano todo pelo isolamento social e pelas adaptações na rotina em função da pandemia da Covid-19.

A médica de clínica geral da Unimed Chapecó, Marcela Marçal, ressalta que 2020 foi um ano atípico por causa da pandemia e com tantas mudanças vieram o medo e a ansiedade. O conselho da médica para preservar a saúde mental é ter momentos de lazer e convivência familiar de maneira segura e respeitando as orientações para evitar o contágio.As pessoas estão sofrendo com a depressão e a ansiedade. Foto: PixabayAs pessoas estão sofrendo com a depressão e a ansiedade. Foto: Pixabay

“Para quem está em home office a recomendação é respeitar os horários e diferenciar as rotinas profissionais e pessoais para manter um equilíbrio. Quando verificar que uma questão está gerando sofrimento e atrapalhando no dia a dia é necessário buscar ajuda profissional”, explica Marcela.about:blankhttps://acdn.adnxs.com/dmp/async_usersync.html

A psicóloga da Unimed, Deisy Parnof, salienta que o isolamento social prejudica grande parte da população.  Segundo ela, somos seres sociáveis e as mudanças foram drásticas: muitos deixaram de conviver com familiares por serem do grupo de risco e as crianças e adolescentes se privaram do contato social com as aulas a distância, por exemplo.

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“Com isso percebemos um aumento significativo de transtornos mentais. Ninguém imaginava o cenário atual, o que resulta em angústia, sofrimento e dúvida de até quando irá a pandemia. Situação que foge do controle e não possibilita visualizar um direcionamento gerando uma elevada carga emocional”, comenta.

Desafios

O desafio, conforme as profissionais, é analisar o ano com base nos aspectos positivos e negativos, uma vez que a tendência do ser humano é visualizar apenas as situações adversas.

A pandemia trouxe como aprendizado dar valor ao que realmente é importante: maior tempo com a família, priorizar os cuidados pessoais pensando no coletivo, optar em atividades ao ar livre e a conexão com a natureza. Contudo, as profissionais estão preocupadas que a pandemia seja banalizada e os cuidados sejam reduzidos.

Marcela enfatiza que houve aumento significativo na procura da psicoterapia e na utilização de medicamentos. Conforme esclarece a médica, pacientes com diagnóstico tiveram sintomas mais acentuados, enquanto que aqueles que nunca tiveram começaram a apresentar, buscando inclusive auxílio medicamentoso.

“Nesta questão é importante quebrar paradigmas, porque a indicação de fármacos é para auxiliar o paciente no tratamento e essa escolha precisa ser individualizada, conforme avaliação de sinas e sintomas”, argumenta a médica.

Sentimento de luto

Muitos pacientes têm relatado o sentimento de luto, não apenas pelo falecimento de familiares e conhecidos pela Covid-19, mas sim pelas perdas cotidianas que causam dores e sofrimento.

Conforme explica a médica, esses sentimentos levam tempo para serem processados e geram sintomas depressivos e ansiosos. Neste ano vivenciamos muitos lutos, como perda do emprego, da rotina profissional e pessoal, de ter adiado planos e das expectativas criadas”, expõe Marcela.Luto é um sentimento que precisa ser vivido – Foto: Kay Jayne/PexelLuto é um sentimento que precisa ser vivido – Foto: Kay Jayne/Pexel

Segundo a psicóloga, o luto não pode ser pulado ou mascarado. “Ele precisa ser vivenciado para não gerar doenças patológicas. Caso o paciente não sinta melhora deve procurar ajuda profissional e compartilhar sua dor com pessoas importantes de sua vida. Precisamos ressignificar nossos conceitos, pois não temos controle das situações ou do futuro. Se não está conforme planejou, então reinvente-se”.

A recomendação das profissionais é de manter a esperança para o próximo ano, valorizar o presente e avaliar se está aproveitando seus momentos na vida e no trabalho de maneira produtiva e gratificante. “Reflita: onde está seu foco? Consegue se autoanalisar? É grato pelas conquistas? ”, questiona Deisy.

Segurança do trabalho deve incluir cuidados com a saúde mental dos funcionários, ressalta juíza

Mirella Cahú irá palestrar sobre os principais direitos dos trabalhadores na pandemia durante programação do webinar Saúde e Segurança do Trabalho, no próximo dia 7

07/12/2020 07:00:11FacebookTwitter

Todos os trabalhadores precisam de atenção especial no momento em relação a fatores como estresse, medo e ansiedade
Todos os trabalhadores precisam de atenção especial no momento em relação a fatores como estresse, medo e ansiedade

Com a mudança repentina do regime presencial de trabalho para o regime remoto, o ambiente residencial se tornou comercial, ocasionando uma série de dificuldades para muitos trabalhadores. Entre as principais queixas, estão questões como problemas de ergonomia, ausência de ambiente exclusivo para trabalho e problemas para gerir tarefas domésticas durante o expediente, como o cuidado com os filhos.

Para auxiliar empresários e funcionários na gestão desse novo modelo de trabalho, a magistrada Mirella Cahú, que atua como Juíza do Trabalho Substituta na 4ª VT de João Pessoa, irá ministrar uma palestra sobre como manter a saúde e a segurança do trabalho na atualidade, nos modelos presencial e home office. O evento integra a programação do webinar Saúde e Segurança do Trabalho, que ocorre no próximo dia 7 de dezembro, e discutirá as adequações que devem ser feitas em tempos de pandemia.

“As normas de segurança e saúde devem ser aplicadas ao local onde há prestação de serviços, seja ele uma fábrica ou a residência de cada um dos trabalhadores. Muita gente ainda está despreparada para essa nova realidade, e no home office, há aspectos específicos que dizem respeito ao estresse, ao conflito família x trabalho e aos aspectos ergonômicos, que muitas vezes são desconsiderados”, explica.

Na ocasião, Mirella, que é especialista em Psicologia Organizacional e mestranda em Psicologia Social, também irá comentar sobre a importância do cuidado com a saúde mental dos trabalhadores, especialmente em momentos de crise. Para a magistrada, todos os trabalhadores precisam de atenção especial no momento em relação a fatores como estresse, medo e ansiedade, seja em casa ou no retorno ao ambiente de trabalho.

“Quando pensamos em segurança do trabalho, pensamos muitas vezes apenas em equipamentos de proteção individual (EPIs) e quedas, mas a legislação prevê um ambiente saudável do trabalho e isso também inclui aspectos de saúde mental. É preciso entender o reflexo dessa mudança de regime e também que retomar o trabalho presencial pode aplicar também um fator estressor, por causa do medo do contágio”, afirma.

Serviço

Webinar Saúde e Segurança do Trabalho

Data: 7 de dezembro de 2020

Horário: A partir das 14 horas

Inscrições gratuitas: https://especial.opovo.com.br/segurancadotrabalho

https://www.opovo.com.br/noticias/especialpublicitario/saudeesegurancanotrabalho/2020/12/07/seguranca-do-trabalho-deve-incluir-cuidados-com-a-saude-mental-dos-funcionarios–ressalta-juiza.html

Pesquisa mostra que a saúde mental ficou debilitada com a pandemia

Situação de insegurança gerou os sonho com fortes emoções relacionadas principalmente a raiva, tristeza e medo

(Foto: Freepik)

Lembra dos memes que infestaram as redes sociais há alguns meses, com pedido de cancelamento do ano 2020? A intenção e o resultado deles eram aliviar as tensões de viver em uma situação de restrição e insegurança causada pela pandemia. 

Agora, uma pesquisa realizada pelo Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostra que nossa saúde mental foi mesmo debilitada pela situação e os efeitos apareceram mais nos sonhos

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BITCOIN UPTaxista de Bahia ouviu a conversa e ficou ricoAPRENDA MAIS→

O estudo aponta que os sonhos dos dias de pandemia e isolamento social são diferentes dos relatados antes dela. Eles têm maior proporção de palavras ligadas à “raiva” e à “tristeza” e maior semelhança a termos como “contaminação” e “limpeza”.  

Segundo a pesquisa, essas características parecem estar associadas ao sofrimento mental ligado a isolamento social. Elas representam 40% da variância na subescala negativa, relacionado à socialização, usada para medir a gravidade dos sintomas de pacientes com esquizofrenia. 

“Dessa maneira, percebemos os sonhos como importante espelho desse mundo interno, demonstrando serem importante fonte de autoconhecimento” disse a psiquiatra Natalia Mota, supervisora do estudo do Instituto do Cérebro. 

Ao todo, 67 pessoas participaram das duas fases do estudo – antes e durante a pandemia de covid-19 – e os resultados foram analisados por um conjunto de 13 pesquisadores com auxílio de inteligência artificial.  

A pesquisa mostra que as mudanças nos sonhos estavam associadas ao grau de sofrimento mental experimentado pelos voluntários, principalmente com maior dificuldade em manter relações sociais satisfatórias com as medidas de isolamento social.  

Conforme a supervisora, os principais resultados foram encontrados no grupo de indivíduos que não relataram sofrimento mental antes da pandemia. A indicação é que o acompanhamento atento dos próprios sonhos, principalmente em momentos de estresse agudo, pode ser uma boa fonte de alerta de sofrimento mental, pois ajuda a advertir sobre riscos.  

“Ao final também podemos perceber que os voluntários autoavaliaram o processo de observar e compartilhar os sonhos como benéfico, trazendo mais sentimentos como felicidade, altruísmo e criatividade para o seu cotidiano”, completa. 

De acordo com Natalia Mota, recentes teorias das neurociências atribuem ao sonhar uma função de regulação de emoções. Seria um mecanismo análogo à digestão, nesse caso, de memórias.  

Esse processo extrai das lembranças do cotidiano o aprendizado para ser retido, mas atenua as emoções, principalmente as muito negativas, nos permitindo lembrar do evento sem sofrer, como se estivesse acontecendo naquele momento, o que ajuda a superar traumas. 

(Com Agência Bori)

6 dicas para melhorar a saúde mental

6 dicas para melhorar a saúde mental

Divulgação/Nossa Saúde

O Brasil é o país mais ansioso do mundo e, quando se trata de números de depressivos, está em segundo lugar nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a pandemia do novo Coronavírus e as mudanças necessárias para evitar a propagação da doença, este ano totalmente atípico intensifica ainda mais os desafios da medicina com relação à saúde mental e ao equilíbrio emocional.

“Saúde mental é uma prioridade global, esses dados apresentados pela OMS só reforçam o quanto que a ansiedade, o estresse e a depressão levam à incapacidade e comprometem a vida do ser humano. Diante disso, é muito importante práticas preventivas, como a psicoeducação e o tratamento de dificuldades emocionais”, aponta a psicóloga Camila Helena Vazzoler Lunardelli Daguetti, atuante no Espaço É Preciso Saber Viver na Nossa Saúde.

A medicina convencional, que trabalha toda a atmosfera científica conhecida, encontra na medicina integrativa, ou complementar, recursos importantíssimos que auxiliam no preparo emocional através de práticas milenares. “O conceito de medicina integrativa busca olhar para cada pessoa por completo, em uma visão holística que tem o objetivo de proporcionar o equilíbrio em todas as dimensões, seja através da saúde física, mental, social, emocional e espiritual. É um método sem contraindicação, que apresenta abordagens que ajudam no manejo do estresse, apoiando-se nos estudos baseados na ciência”, afirma Daniela Artico, Coordenadora do Núcleo de Medicina Integrativa da Nossa Saúde.

Ainda somando esforços para o cuidado por completo da mente e do corpo, a homeopatia se faz presente no intuito de melhorar a qualidade de vida, com tratamentos menos agressivos e alternativas efetivas que podem ser trabalhadas como protagonistas, em alguns casos, ou complementares da medicina convencional.

“A homeopatia já existe há mais de 200 anos, e surgiu pela observação do médico alemão Samuel Hahnemann, que notou que as pessoas não adoeciam apenas por questões físicas, mas sim que existiam componentes mentais e emocionais diretamente ligados ao adoecimento, seja ele do corpo ou da mente”, menciona o Dr. Luiz Fernando Nicolodi, Médico de Família, homeopata, acupunturiatra e nutrólogo. “É um recurso que pode ser utilizado em qualquer doença, às vezes como central do tratamento, às vezes como complementar, mas que proporciona comprovadamente benefícios terapêuticos prolongados para a saúde”, conta.

Para proteger a mente é preciso estar atento, por isso, com a ajuda dos profissionais entrevistados, elencamos seis dicas para melhorar a sua saúde mental:

  1. Pratique atividades físicas: O corpo precisa de movimento. Faça caminhadas, corridas, ou simplesmente dance na sala de casa. É extremamente necessário oxigenar a mente, e os exercícios físicos ajudam nessa tarefa reforçando toda a musculatura e preparando para que a rotina possa ser encarada com mais disposição.
  2. Atente-se à sua alimentação: Tudo que é ingerido deve passar por uma análise crítica sobre qualidade, procedência e elementos nutritivos. Quando a alimentação está descompensada, acaba influenciando não apenas em problemas físicos, como também na alteração do humor e intensificação da sensação de mal-estar.
  3. Conheça as técnicas de meditação e faça a respiração consciente: A dica aqui é parar. Por alguns instantes, o ideal é fechar os olhos e praticar a autorreflexão, prestando atenção exclusivamente na suavidade da respiração. Nesses minutos, se for possível, atente-se às belezas da natureza, seja o azul do céu, o frescor das árvores, ou até mesmo, a movimentação das nuvens. Meditar é estar presente no presente, se preferir, utilize aplicativos on-line que ofereçam meditações guiadas para criar o hábito de reservar esse tempo para o self.
  4. Cuide da qualidade do sono: Dormir é remédio, sim. Ter bem organizadas as horas de sono é um importante aliado para a saúde física e mental. Para isso, não utilize celulares, computadores, notebooks, tablets ou televisores antes de dormir. Observe a claridade do ambiente: feche as janelas com cortinas e blackouts que façam esse controle da iluminação externa.
  5. Tenha integração com o meio ambiente e a natureza: Sinta a energia revigorante da natureza. Respire o perfume suave de um jardim, pise na grama úmida pela relva do amanhecer, ou ande descalço na areia da praia. Esse contato é fundamental, pois o ser humano faz parte dessa composição espetacular que é o planeta.
  6. Faça atividades que te dão prazer: Seja feliz. As atividades que impulsionam e geram prazer são fundamentais para criar o alívio emocional. A quarentena trouxe consigo o isolamento e o distanciamento, mas é aqui que a tecnologia entra como aliada: esteja presente, mesmo de longe. Sorria! O sorriso libera hormônios do prazer que renovam o ânimo, e funciona como antídoto contra os problemas do dia a dia.

Camila Helena Vazzoler Lunardelli Daguetti

Especialidade: Psicóloga

CFP: 0810617

Daniela Artico

Coordenadora do Núcleo de Medicina Integrativa da Nossa Saúde

Pós-graduada em Medicina Integrativa e em Gestão Emocional nas Organizações, Professora de Cultivating Emocional Balance, tem extensão Universitária em aplicação da Espiritualidade na Promoção da Saúde, é Mestre Reiki e advogada

Luiz Fernando Nicolodi

Especialidade: Médico de Família, homeopata, acupunturista e nutrólogo

CRM- PR: 25364

Debate virtual marca Dia Nacional de Luta Antimanicomial nesta segunda (18), às 20h

Rede de Atenção Psicossocial está funcionando durante pandemia, mas, com a quarentena, ato de hoje acontece na internet

Rede de Atenção Psicossocial está funcionando durante pandemia, mas, com a quarentena, ato de hoje acontece na internet

Vanessa GonzagaBrasil de Fato | Recife (PE) | 18 de Maio de 2020 às 16:00

Organizações da luta antimanicomial da Região Metropolitana do Recife organizam, desde 2013, a Semana de Luta Antimanicomial – Divulgação/Libertando Subjetividades

O Núcleo Libertando Subjetividades, de Pernambuco, realiza nesta segunda-feira (18), Dia Nacional de Luta Antimanicomial, o debate virtual “A defesa do SUS e a construção de redes de resistência e solidariedade”. O debate acontece a partir da 20h no canal da entidade no YouTube e conta com a presença de Jose Nilton Monteiro, usuário da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); e da psiquiatra Erotildes Leal.

O Dia Nacional de Luta Antimanicomial surgiu em referência à 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental, considerada um marco na luta profissionais de saúde, usuários, familiares e pessoas que pautaram a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil ainda na década de 1980. Considerada um serviço essencial justamente por traçar estratégias que diminuem o sofrimento mental, a RAPS continua funcionando durante a pandemia de coronavírus.

“O atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) está seguindo com todas as orientações de segurança, mas é claro que houve uma redução porque as atividades nos CAPS era muito centrada em atividades coletivas, que não estão acontecendo mais. As avaliações caso a caso, os teleatendimentos, consultas por telefone, e quando necessário, a visita domiciliar, seguem acontecendo” explica Catarina Albertim, Terapueta Ocupacional da RAPS Recife e militante da luta antimanicomial pelo Núcleo Libertando Subjetividades. A RAPS abrange desde casos considerados simples, até os de alta complexidade, indo das Unidades Básicas de Saúde até os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) e hospitais psiquiátricos.

:: Movimento Antimanicomial denuncia ‘indústria da loucura’ no Governo Bolsonaro ::

Na luta por uma sociedade sem manicômios, as várias organizações da luta antimanicomial da Região Metropolitana do Recife (RMR) organizam desde 2013 a Semana de Luta Antimanicomial, com uma série de atividades que incluem debates, exibição de filmes, seminários, atividades lúdicas e um “passeATO” com militantes, profissionais de saúde, usuários, amigos e familiares para cobrar a efetivação de políticas de reorganização do modelo de atenção em saúde mental e denunciando a violação de direitos de pacientes psiquiátricos do sistema convencional.

Neste ano, com as medidas restritivas para evitar a disseminação do coronavírus, a manifestação acontece nas redes, como explica Catarina “Com a pandemia, foi tudo diferente. A gente começou com a proposta das manifestações virtuais, onde as pessoas puderam mandar sua manifestação em forma de texto, vídeo, música, tudo pela internet. Foi importante pra dizer que os militantes da luta antimanicomial estão isolados, mas não estão sozinhos, porque nossa bandeira é exatamente essa, a da inclusão e sociabilidade”.

Isolamento social e encarceramento

Dadas as circunstâncias de isolamento social, é possível traçar um paralelo entre esse momento e política de encarceramento e privação de liberdade e autonomia das pessoas que são colocadas em manicômios “o encarceramento foi tido como cuidado por muitos anos no Brasil e no mundo, mas desde a década de 1970 nós temos observado que isso não é cuidado, é tortura e violação dos direitos humanos”, explica a terapeuta. 

Ela explica que é favorável ao isolamento e que existem muitas diferenças entre a política manicomial e a quarentena, mas que esse momento pode servir como um convite à reflexão da efetividade destes tratamentos “E ainda assim, durante o isolamento, as pessoas estão nas suas próprias casas, com acesso à alguns familiares, então não é uma comparação direta, porque nos hospitais e unidades terapêuticas as pessoas não têm acesso a muitas coisas, mas fica a reflexão sobre o que significa esse tipo de isolamento que não é produtor de saúde. Nós sempre falamos que estar sozinho e não ter acesso à serviços básicos, à comunidade e ao seu território é adoecedor”, pontua.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vivian Fernandes e Vanessa Gonzaga

“Que coisa louca!”: desfile antimanicomial faz “ocupação virtual” em Belo Horizonte

Além de transmissões ao vivo, movimento espalha avatares e protestos no mapa virtual da capital mineira

RedaçãoBrasil de Fato | Belo Horizonte (MG) | 18 de Maio de 2020 às 20:53

mapa virtual bh antimanicomial
Praça da Liberdade está lotada de avatares com seus protestos; local é o ponto de concentração, todo 18 de maio, da escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam – Reprodução Manif.app

O tradicional Dia da Luta Antimanicomial, 18 de maio, não poderia passar em branco justamente em tempos de confinamento. Os organizadores do desfile carnavalesco que acontece todo ano em Belo Horizonte arranjaram alternativas um pouco “loucas”, nas palavras deles, mas que estão dando ibope.

O dia começou com uma transmissão ao vivo, às 10h, na página do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em conferência da qual participaram dezenas de entidades, como a Associação Brasileira de Saúde Mental, a Federação Nacional dos Psicólogos, a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, a União Latino Americana de Entidades de Psicologia, movimentos e conselhos regionais de psicologia.

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Ana Sandra Fernandes, psicóloga e presidenta do CFP, mediou as falas, mas antes fez um manifesto contra o fechamento forçado que pessoas com transtornos mentais passaram no Brasil. Nos manicômios, essas pessoas foram “vítimas das mais diversas formas de crueldade, violência, opressão e violação de seus direitos mais sagrados, como o da dignidade humana”.

A psicóloga lembrou da inspeção feita pelo CFP e outras entidades em 2019, que revelou irregularidades extremas em 40 hospitais psiquiátricos de 17 estados brasileiros. Por exemplo, 35% tinham pouco ou nenhum papel higiênico, 42% tinham banheiros sem porta, 22% não tinham água quente e 27% não tinham cama para todos os internos. Práticas que eram adotadas por manicômios no passado e hoje se reproduzem em hospitais psiquiátricos e em comunidades terapêuticas, afirmou Sandra.

O perigo do encarceramento

A Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, representada por Angela Soligo, destacou que o Dia da Luta Antimanicomial é contra o encarceramento físico, mas também simbólico da loucura e da diferença.

“Até o início dos 80, mulheres eram encarceradas em manicômios por sua rebeldia e revolta contra a opressão de gênero. Adolescentes e jovens eram enviados a manicômios por serem rebeldes. Pessoas negras, por sua religião de matriz africana. Idosos, porque às vezes produziam incômodos às suas famílias. Pessoas de orientação sexual não heteromormativa, por serem quem são. Ativistas políticos para que a sociedade opressora se livrasse deles. Loucos, rotulados, eram expropriados de sua humanidade, de seus direitos, de sua voz, de sua identidade. A luta antimanicomial é a luta pelo humano direito à diferença”, falou Angela.

Desfilando em plena quarentena

bloco “Liberdade Ainda que Tam Tam”, uma das manifestações mais fortes da Luta Antimanicomial no país, não deixou de desfilar por conta do isolamento. Eles se reinventaram virtualmente e realizam durante o dia de hoje (18) um protesto virtual por meio da página Manif.app. Lá, você escolhe a sua frase de protesto e coloca seu avatar na rua (virtual). Os locais de concentração e caminhada do bloco estão cheios, como acontece há mais de 20 anos.

O samba enredo da escola de samba foi lançado: “Capetão Pandemia”, na íntegra abaixo. O Centro de Convivência São Paulo lançou também um vídeo com depoimentos de pessoas que são atendidas pela rede de cuidados. “Maldade. Onde está a maldade? Na fantasia do louco ou na brutalidade da sociedade?”, questiona um dos depoimentos.

Na quarta (20) às 16h, acontece ainda o debate “A luta antimanicomial no nosso dia a dia: o que podemos aprender com o isolamento social em tempos de pandemia”, no Instagram, Facebook e YouTube do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais.

Samba-enredo de 18 de maio 2020: Capetão Pandemia

“Tantas almas de Dandaras e Zumbis a Guajajaras
Eu sei bem de suas lutas das histórias mal contadas
Eu que vi um Dom Quixote Corpo Nise da Silveira
Sou criança no presente carregando um delírio
da mais profunda razão:
Libertar a verdade dos muros da prisão
Todo dia Liberdade pro juízo da Nação

Foi parido na mentira que um tirano apareceu
Enganador, falso traíra!
será que o povo se esqueceu
de um tempo de opressão e violência
onde toda divergência foi calada com a dor?
E hoje a liberdade ameaçada, a verdade apagada
tudo em nome do Senhor!

Brasil, que bicho te mordeu
você caiu na armadilha da ilusão?
um rei mau coroado te convenceu
a vender toda riqueza da nação
Não vai ter perdão pra desonestidade da razão
A loucura vem cobrar
mas a história é quem vai te castigar

Hoje é o soberano, capetão pandemia
amanhã soldadinho que mia
E não há qualquer milícia
Nem tampouco Tio Sam
que lhe tire dessa fria”

Por Uma Sociedade Sem Manicômios!

Composição: Centros de Convivência Oeste/Barreiro/São Paulo e Pampulha sob a coordenação de Raphael Sales e Helvécio Viana. Raphael Sales – Voz e violão, Caio Bikari – Cavaquinho, Almin Bah – Agogô, tamborim, surdo, caixa, pandeiro, Felipe Cordeiro – Tantan, ganzá, cuíca, surdo, caixa, pandeiro. Direção musical: Raphael Sales e Almin Bah. Gravado e produzido por Ruy Montenegro no dia 16 de maio de 2020 no Studio Gênesis.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Vivian Fernandes e Elis Almeida

Rita explica o porquê da existência de serviços e políticas públicas que supram a necessidade do cuidado a saúde mental – Foto: Agência Brasil

A primeira fase da pesquisa do Ministério da Saúde, que reuniu informações sobre a saúde mental dos brasileiros durante a pandemia da covid-19, mostrou que 85,5% dos entrevistados sofreram de ansiedade; 45,5% de transtorno de estresse pós-traumático; e 16% de depressão grave. 

A importância de cuidar da saúde mental vem sendo um tema cada dia mais relevante e, por isso, o Sistema Único de Saúde oferece diversos serviços psicológicos, psiquiátricos e multidisciplinares voltados para isso. Para falar sobre o tema, o Revista Brasil de Fato desta semana entrevista Rita Acioli, enfermeira e militante do Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades. Rita explica o porquê da existência de serviços e políticas públicas que supram a necessidade do cuidado a saúde mental. 

O programa traz, ainda, o primeiro episódio da segunda temporada da série “Brasil Profundo”, que faz parte do podcast Sertões de Fato, produzido em parceria com o Brasil de Fato Pernambuco. Neste episódio, Marco Túlio viaja até Exu, no sertão pernambucano, terra de Luiz Gonzaga. 

O Revista está na programação da Rádio Frei Caneca 101,5 FM todas as terças às 20h; na Rádio Brasil de Fato às quartas a partir das 13h e também como podcast nas principais plataformas de streaming, como Spotify e Google Podcasts.

Edição: Vanessa Gonzaga

Revista Brasil de Fato: a importância de cuidar da saúde mental

Rita Acioli, enfermeira e militante do Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades, é a convidada

Da RedaçãoBrasil de Fato | Recife (PE) | 18 de Novembro de 2020 às 12:58

Rita explica o porquê da existência de serviços e políticas públicas que supram a necessidade do cuidado a saúde mental – Foto: Agência Brasil

A primeira fase da pesquisa do Ministério da Saúde, que reuniu informações sobre a saúde mental dos brasileiros durante a pandemia da covid-19, mostrou que 85,5% dos entrevistados sofreram de ansiedade; 45,5% de transtorno de estresse pós-traumático; e 16% de depressão grave. 

A importância de cuidar da saúde mental vem sendo um tema cada dia mais relevante e, por isso, o Sistema Único de Saúde oferece diversos serviços psicológicos, psiquiátricos e multidisciplinares voltados para isso. Para falar sobre o tema, o Revista Brasil de Fato desta semana entrevista Rita Acioli, enfermeira e militante do Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades. Rita explica o porquê da existência de serviços e políticas públicas que supram a necessidade do cuidado a saúde mental. 

O programa traz, ainda, o primeiro episódio da segunda temporada da série “Brasil Profundo”, que faz parte do podcast Sertões de Fato, produzido em parceria com o Brasil de Fato Pernambuco. Neste episódio, Marco Túlio viaja até Exu, no sertão pernambucano, terra de Luiz Gonzaga. 

O Revista está na programação da Rádio Frei Caneca 101,5 FM todas as terças às 20h; na Rádio Brasil de Fato às quartas a partir das 13h e também como podcast nas principais plataformas de streaming, como Spotify e Google Podcasts.

Edição: Vanessa Gonzaga

Cortes em programas de saúde mental reacendem lógica de manicômios, diz pesquisadora

Para Mônica Nunes, do GT Saúde Mental da Abrasco, desmonte faz o país regressar a tratamentos violentos e segregadores

Erick GimenesBrasil de Fato | Brasília (DF) | 07 de Dezembro de 2020 às 20:17

Governo Bolsonaro sinaliza para desmonte de estrutura conquistada por décadas de luta antimanicomial no Brasil – Gabriela Barros

A sinalização do governo federal para cortes significativos em programas de saúde mental indica um regresso a um modelo segregador e violador de direitos humanos, segundo a médica, professora e pesquisadora Mônica Nunes, integrante do Grupo Temático de Saúde Mental da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Conforme o Conselho Nacional de Saúde (CMS), o Ministério da Saúde pretende revisar a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e encerrar programas importantes da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, por meio de portarias.

Relembre: Governo Bolsonaro incentiva eletrochoques e propõe a volta dos manicômios

Estão sob risco, por exemplo, o programa anual de reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar no SUS, o Consultório na Rua; o Serviço Residencial Terapêutico e a Comissão de Acompanhamento do Programa De Volta para Casa.

Ao Brasil de Fato, Mônica Nunes disse que, caso efetivadas, as mudanças vão contra a vontade e necessidade das próprias pessoas atendidas por esses programas, além de significarem o retorno de uma política manicominal, focada em restrições sociais, cujas violações e problemas são comprovadas cientificamente.

Leia a entrevista:

Brasil de Fato: O governo sinaliza uma lista de cortes na Política Nacional de Saúde Mental. Como a política funciona hoje e quais são seus principais pilares?

Mônica Nunes: Esse desmonte vem acontecendo mais fortemente desde o início desta gestão presidencial, embora desde o Michel Temer e até um pouco antes nós já começássemos a observar sinais de retrocesso, quando tivemos, por exemplo, a nomeação de um coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, o Valencius [Wurch Duarte Filho], que destoava absolutamente de todo o perfil que nós estamos garantindo ao longo de algumas décadas de uma reforma psiquiátrica antimanicomial.

Quando a gente fala de reforma psiquiátrica antimanicomial, é pensando que durante séculos nós tivemos um modelo onde se priorizava a segregação das pessoas com sofrimento mental. Se propunha que elas fossem tratadas em espaços onde elas ficavam cortadas do convívio com suas famílias, a vizinhança, e se pressupunha que essa orientação distanciada, segregada, seria uma maneira de contornar as manifestações, as expressões desse sofrimento.

As pessoas passaram a ter uma série de formas de viver restritas, com o uso massivo de medicamento, com contenção física e muitas vezes com violência. 

Na verdade, o que se observou, a partir de denúncias e muitos artigos e livros escritos, é que esses espaços segregadores, em que você corta os laços das pessoas e impede a capacidade de sociabilidade e desenvolvimento dos seus talentos, não se estabelecem. Aquilo virou um espaço de verdadeiras violações dos direitos humanos, onde as pessoas passaram a ter uma série de formas de viver restritas, com o uso massivo de medicamento, com contenção física e muitas vezes com violência.

Essa série de questões fizeram com que, em um determinado momento da história, houvesse reformas psiquiátricas pipocando no mundo inteiro. Essas reformas propuseram que a gente pudesse avançar em reformas muito mais humanas e dignas, que você permitisse essas pessoas o exercício aos seus direitos de cidadania.

Leia também: “Por uma sociedade sem manicômios”: a resistência de um movimento de acolhimento

Quais foram os principais avanços nesse sentido?

Foram, exatamente, o de você sentir que a crítica era muito expressiva a todo contexto que se caracterizasse enquanto manicomial, que aquele espaço em que você coloca pessoas para cortarem o cabelo de uma forma igual, comerem, dormirem, fazerem tudo em determinado horário. É uma massificação na forma de atuar que você, na verdade, está ali controlando comportamentos, e não provocando as subjetividades. Você não estava entendendo, escutando.

Esse avanço é justamente você priorizar a origem do sofrimento – por que ela sofre? O que está provocando aquilo? Saber que você só melhora situações de sofrimento quando você mantém as pessoas na sua rede social. Não adianta afastá-las para que depois elas voltem, porque isso é uma relação de artificialidade. Depois, essa capacidade que elas vão ter de se ressocializar fica extremamente difícil.

Você só melhora situações de sofrimento quando você mantém as pessoas na sua rede social 

O questionamento de um uso de medicação, de uma forma quase que punitiva, excessiva, dopando as pessoas, fazendo com que você contenha sintomas, mas não resolva os problemas que elas possam estar enfrentando.

O sofrimento não é apenas um sofrimento individual. Você não adoece sozinho no mundo. Você adoce junto, no sentido de que o sofrimento é fruto ou de relações sociais, sejam elas com famílias ou com vizinhos, mas também fruto de uma sociedade que começa a produzi-lo. A gente sabe que o sofrimento aumenta porque as pessoas sofrem mais privações, por exemplo, socioeconômicas – falta de emprego, falta de moradia, pessoas que têm dificuldade pelo excessivo individualismo, competitividade.

É um modelo que não acredita que o adoecimento é fruto apenas uma desregulação bioneuroquímica 

O tratamento tem que ser onde? Na comunidade. Daí a essa ideia de tratamento territorial, comunitário. Você tem que conhecer mais de perto o que está acontecendo nas redondezas, o que está acontecendo dentro daquela casa, na vida daquela pessoa, para que as soluções possam surgir e você consiga contribuir com algum tipo de saída para o que a gente chama de crises.

No entendimento de um modelo psicossocial de atenção, que rege a reforma psiquiátrica, é um modelo que não acredita que o adoecimento é fruto apenas uma desregulação bioneuroquímica. Óbvio que a gente é biologia. Ninguém está negando isso. Muito pelo contrário, não existe essa separação. O ser humano é um bicho danado de complexo. Ele tem as emoções, os afetos, a questão cultural. Não se adoece igual em todas as culturas. Se você for lá nas populações indígenas ou em outras comunidades, você vai ver que as formas de sofrer não são iguais.

Falando em desigualdade, alguns dos possíveis programas cortados são o Consultório na Rua, o Serviço Residencial Terapêutico e a Comissão de Acompanhamento do Programa De Volta para Casa. São políticas que fazem chegar melhor o tratamento a mais pessoas, certo?

Excelente lembrança. Você deu uma dica de como essa política que foi montada [a política antimanicomial] é cuidadosa, porque ela pensa o seguinte: se pessoas foram por tantas décadas internadas, adoeceram mais, elas têm direito a reparação. E, para reparar, elas têm que ter uma renda, com o Programa Volta para Casa, junto com a possibilidade de, caso elas estivessem tão afastadas das famílias de origem, elas terem para onde ir, daí o Serviço Residencial Terapêutico.

Como é que você reinsere socialmente pessoas que foram por tanto tempo afastadas dos seus, criando grandes rupturas? Tem que reparar. Aliás, se repara muito pouco com o Programa de Volta para Casa. Deveria reparar muito mais com o que aconteceu na vida dessas pessoas.

A senhora citou que existem pessoas com olhar restrito para as questões de saúde mental. Hoje, a gente tem um governo federal com olhar restrito. O que podemos fazer como sociedade, como pesquisadores ou até como a própria pessoa em sofrimento para lutar contra isso?

A primeira coisa é isso que você está proporcionando aqui: se comunicar. É muito importante se comunicar com o público, de forma geral. Primeiro que todo mundo tem alguém perto, próximo, que tem algum tipo de sofrimento psíquico. Isso é muito frequente.

Acho que as pessoas têm que ser alertadas, entenderem do que se trata, para que elas também participem. Além disso, é incrível a mobilização enorme que esses retrocessos já estão provocando na sociedade. O número de grupos que se articularam para rebater isso com muita firmeza é expressivo.

Usuários e usuárias de saúde mental que estão se beneficiando, já há algumas décadas, desse modelo antimanicomial estão o tempo inteiro colocando a própria experiência deles e delas como a melhor prova concreta de que vale a pena defender um modelo comunitário, em liberdade, digno. Isso é muito importante.

Não permitir que muito do que foi construído com muita delicadeza, mas também com muita segurança, que isso não desapareça no apagar das luzes. 

Também formar frentes parlamentares – já existe uma frente parlamentar capitaneada pela deputada Érika Kokay -, os estados estão se organizando, as prefeituras. É importante que a gente também se articule com o parlamento, afinal de contas eles foram eleitos pela população. Movimentos sociais, a gente precisa. Pesquisas – você tem uma base de dados incrível, que pode ser acessada por quem tenha interesse para ver como são os NASFs (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), que são ligados à atenção primária, que é algo que já existia e foi retirado por parte do governo federal.

É fundamental, porque a atenção primária vai naqueles pequeníssimos municípios, onde não faz sentido, pelo número da população, ter serviços mais especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial, os Capes. A atenção básica é muito importante a gente ter uma aproximação com essas equipes, com outros profissionais, os agentes comunitários de saúde.

É a gente, agora, conseguir resgatar e não permitir que muito do que foi construído com muita delicadeza, mas também com muita segurança, que isso não desapareça no apagar das luzes. Geralmente, é no apagar das luzes.

Edição: Rodrigo Chagas